O Turismo Equestre é reconhecido em diferentes países como importante segmento dentro das atividades de turismo e lazer, contando com grande e crescente número de adeptos. Nos Estados Unidos e na Europa, existe um mercado enorme de adeptos da atividade. Pode-se tomar como exemplo e referência, a Associação Nacional de Turismo Equestre da França, que tem mais de 200 mil sócios.
Conceito
O turismo equestre é a atividade turística que utiliza o cavalo ou outros equídeos como principal fator de atração turística, o cavalo é a motivação principal.
Subdivide-se em turismo a cavalo e turismo do cavalo, tendo cada sub grupo, públicos e produtos diferentes.

Turismo a Cavalo – Quando se desenvolve, pelo turista, a prática da equitação, os turistas deslocam-se de um ponto a outro, utilizando o equídeo como principal meio de locomoção e enquanto atividade turística de lazer e entretenimento.
Turismo do Cavalo – Engloba atividades ligadas ao mundo equestre, sem que se desenvolva pelo turista a prática da equitação. Turismo centrado no conhecimento do cavalo como produto e da exibição do cavalo (feiras, exibições temáticas, eventos hípicos)
Vamos nos ater nesta apresentação ao Turismo a Cavalo.
Os produtos oferecidos pelo turismo a cavalo vão desde simples passeios a cavalgada de vários dias. É possível e recomendável, articular o turismo a cavalo com outros tipos de produtos turísticos, criando uma oferta composta e diferenciada que proporcione experiências enriquecedoras, distintas e autênticas, onde o turista possa ter um contato com a natureza, cultura, tradições, artesanato e a gastronomia local.
O Brasil por sua diversidade geográfica, climática e por suas belezas naturais, tem real potencial para o desenvolvimento do turismo equestre de qualidade, destacando-se: clima ameno que permite praticar atividades ao ar livre durante todo o ano; diversidade de cenários; grande tradição na utilização do cavalo; quantidade de cavalos de diferentes raças e a existência de raças de cavalos marchadores, com características bastante indicadas para cavalgadas.
Classificação
Passeio – até 2 horas
Cavalgada – mais de 2 h. até um dia
Viagem a cavalo – mais de um dia seguido
Historia
A atividade começou profissionalmente no Brasil em 1986 quando o cavaleiro francês Stephane Bigo depois de percorrer a cavalo, boa parte da América do Sul, ao retornar da Bolívia para São Paulo, de onde havia partido, atravessou o Pantanal e ficou tão encantado que depois de concluída a cavalgada, retornou àquela região para organizar cavalgadas; ofertando diferentes percursos e tropas de animais para turistas europeus. Constituiu então a Verdes Eventos Turismo Equestre em sociedade com Homero Diacopolus.
Pouco tempo depois, alguns pioneiros também começaram na atividade, como a fazenda Barreiro em Lages, SC ; a fazenda Nova em Mococa SP ; a fazenda Santa Sophia no Pantanal, MS e a Horseback Turismo Equestre na serra gaúcha RS. A atividade efetivamente começou se desenvolver a partir de 2004 quando foi criada a primeira agencia de viagens a cavalo no país, a Cavalgadas Brasil. Com um trabalho de formatação de roteiros em diversos destinos do Brasil, e intenso trabalho de divulgação nacional e internacional, a agencia deu grande visibilidade a atividade. Na modalidade de passeios e cavalgadas, a atividade está presente em muitas pousadas e hotéis fazenda, que infelizmente, em sua grande maioria, trabalham sem a estrutura de qualidade e segurança adequada. Qualificar esta oferta, colocando no mercado, produtos de qualidade, é um grande desafio.
Mercado Nacional
O turismo equestre é sem duvida, a atividade mais popular e a que mais cresce dentro do agronegócio cavalo no Brasil (também esta crescendo nos Estados Unidos, e alguns países da Europa aonde se contam em milhares os praticantes da atividade).
O Brasil apesar da quantidade e qualidade de cavalos, é um país aonde a formação profissional no setor ainda é incipiente.

Na pesquisa Perfil do Turista de Aventura e Ecoturista no Brasil – realizada em 2010 pela ABETA – Associação Brasileira de Turismo Aventura, com 904 respondentes, vemos que 36% indicaram cavalgada, que divide o 1º lugar na preferencia dos usuários.

Já no resultado do grau de satisfação com a atividade realizada, a cavalgada teve somente 7,88% ficando em ante penúltimo lugar.
Esses dados demonstram claramente que existe grande potencial de mercado, mas que infelizmente na maioria dos casos, o cliente não é atendido de forma profissional, prejudicando a imagem e o desenvolvimento da atividade no país.
Em 2007 apresentei para o Ministério do Turismo o projeto de Ordenação e Estruturação do Turismo Equestre no Brasil*. Infelizmente só foi contratada sua primeira etapa, o levantamento quantitativo e qualitativo dos empreendimentos (Cadastro TE abaixo). O levantamento serviu para mapear a atividade e para constatar suas grandes deficiencias. Apesar do interesse dos envolvidos na atividade, o Ministerio não deu continuidade ao trabalho. * Projeto contratado através do Instituto Marca Brasil, do qual fui fundador e hoje sou Conselheiro. www.marcabrasil.org.br
Abaixo dados do trabalho (gráfico com Cadastro % de empreendimentos de cavalgada por estado e pontos críticos)

Pontos críticos:
– baixa qualificação da mão-de-obra
– baixa divulgação, promoção e marketing
– amadorismo e empirismo dos empreendedores
– dificuldade na obtenção de equipamentos de qualidade, principalmente daqueles relativos à segurança
– dificuldades na contratação de seguro para a atividade.
– baixo número de instrutores qualificados
– baixo investimento na tropa
– dificuldade de acesso a linhas de crédito
Com o apoio do Ministério do Turismo, a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, organizou um conjunto de Normas de Segurança para diversas atividades de turismo aventura, dentre elas o turismo equestre. Eu também participei na elaboração deste trabalho, que infelizmente saiu prejudicado por questões de ordem. Essas Normas são desconhecidas pela grande maioria dos usuários e ate dos empreendedores de turismo equestre e hotéis fazenda. Apesar de suas falhas, a Norma é o único referencial de mercado que em casos de disputas judiciais servira como referencia.
Nota – Infelizmente existem varias ações ajuizadas contra donos de empreendimentos que oferecem cavalgadas, algumas inclusive com valores bastante altos.
Normas Específicas ABNT NBR 15507- 1 Turismo equestre
Parte 1: Requisitos para produto 2 Turismo equestre
Parte 2: Classificação de percursos Normas Transversais
ABNT NBR 15285 – Turismo de Aventura – Condutores – Competência de pessoal
ABNT NBR 15286 – Turismo de Aventura – Informações mínimas preliminares a clientes
ABNT NBR 15331 – Turismo de Aventura – Sistema de Gestão da Segurança – Requisitos
ABNT NBR 15500 – Turismo de Aventura – Norma de Terminologia
Nos últimos anos diversas modalidades de turismo cresceram e se profissionalizaram. Com raras exceções o turismo equestre não está incluído nas opções oferecidas pela maioria das agencias e até os próprios clientes desconhecem as opções e grandes vantagens desta atividade.
Concluindo, o Brasil tem enorme potencial para o desenvolvimento do turismo equestre, para atender não só o mercado nacional como também o mercado internacional, mas carece de qualificação de produtos e de profissionais. Considerando que de parte do poder publico, não podemos esperar nenhuma iniciativa, a solução será a reunião dos interessados em uma entidade que os represente e possa realizar as ações necessárias, a exemplo do que ocorre em vários países aonde a atividade esta bem mais desenvolvida.
Mercado Internacional
Em muitos países europeus, a equitação é o terceiro esporte mais praticado, depois do futebol e do ciclismo. O mercado de cavalgadas nos Estados Unidos e na Europa é muito grande. Existem na América do Norte, na Austrália e em vários da Europa, diversos operadores de viagens especializados em turismo equestre. A maioria deles vende destinos brasileiros operados pela agencia Cavalgadas Brasil.
Público inglês de viagens a cavalo
Pesquisa* realizada em 2015 pela agencia inglesa In The Saddle, maior operadora de viagens a cavalo do mundo.
*A agencia recebeu as respostas de 1.161 clientes que viajam a cavalo.
Distribuição dos clientes por sexo
– 17% masculino – 83% feminino
*no Brasil temos um percentual diferente – 35% masculino e 65% feminino

Distribuição dos clientes por faixa etária
Maior percentual na faixa de 35-54 anos *Similar no Brasil

Distribuição das respostas por grupo
É grande o número de quem que viaja a cavalo sozinho, se sentem bem e gostam de viajar com outras pessoas que viajam com amigos ou parceiros. Essa é a vantagem de uma viagem a cavalo – você quase nunca esta sozinho em viagem.

Que tipo de viagem você fez nos últimos 3 anos ?
Observar que esse público é bastante fiel a sua paixão por cavalos e cavalgadas.

Para onde pretende viajar a cavalo no próximo ano ?
*America do Sul em 6ª posição

Quais são as fontes de informação mais importantes na escolha da viagem?
Pesquisa em sites de viagem 48,8%
Indicação de amigos/família 44,3%
Lendo avaliação de quem já fez a cavalgada 2,4%
Google ou outra ferramenta de busca de 37,1%
Indicação da agencia de viagens 26,6%
Conclusão
Por ser uma das poucas atividades de turismo aonde outro “ser vivo” está participando e interagindo com o turista, certamente aí já temos um grande diferencial, mas são nas oportunidades únicas que o turismo equestre oferece que encontramos sua principal característica. Seja cavalgando numa viagem em lugares remotos como o Pantanal, a região da Lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul, a Mongólia ou a África; ou simplesmente fazendo um passeio numa “cavalgada de lua cheia”, numa cavalgada temos a oportunidade de conhecer lugares, sentir emoções e ter experiências que só são possíveis a cavalo.
Uma das grandes vantagens de uma cavalgada é que o turista pode estar dividindo sua aventura com a família e amigos (costumo dizer que cavalgar é a atividade de aventura “mais família” que existe, pois pode reunir avós, filhos e netos num mesmo passeio. Crianças a partir de 8 anos que andam com os avós e ou os pais são uma constante). Outra grande vantagem de uma cavalgada é que o turista terá a companhia de um animal que normalmente também está interessado em passear, em ouvir os sons da natureza e que poderá estar gostando do passeio tanto quanto ele.
Cavalgar, o que muitos não sabem, também pode ser uma boa maneira de fazer exercício, pois é um excelente estímulo cardio pulmonar e apesar de estarmos em cima do cavalo, dependendo do passo, (movimento ritmado, repetitivo e simétrico) estaremos exercitando diversos músculos de nosso corpo, além de provocar na coluna do cavaleiro um deslocamento que age como um excelente trabalho fisioterápico na coluna vertebral.
Hipócrates em 400 a.C. já utilizava a equitação com o objetivo de melhorar a saúde de seus pacientes. Com o passar dos tempos constatou-se que cavalgar não exercita somente o corpo, os sentidos também são influenciados. Os movimentos rítmicos e precisos do cavalo, a liberdade provocada pela sensação de cavalgar e o contato direto com o animal e a natureza são capazes de fazer verdadeiros milagres para o corpo e a mente.
O prazer e a sensação de cavalgar, e a presença do cavalo na história do homem são tão profundas que já se encontram impressos em nossa memória genética. Cavalgar é uma atividade milenar. Quando estamos cavalgando, nos transformamos em aventureiros, exploradores, etc.
Texto de autoria de Paulo Junqueira Arantes – reprodução autorizada desde que citada a autoria e a fonte